19 de março de 2014

Educadores têm conhecimento limitado e estereotipado do ECA

Uma pesquisa da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP está investigando como os educadores da rede pública de ensino representam o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e as implicações dessas significações nos processos de mediação e prevenção da violência nas escolas.

Os primeiros resultados indicam que parte dos professores compreende o estatuto como “excessivamente liberal”, “facilitador da conduta desregrada e indisciplinada” do aluno em sala de aula, “impedindo a tomada de medidas punitivas e disciplinares”. Outros acreditam que o estatuto é “adequado e até avançado em relação à prevenção da violência contra crianças e adolescentes, o problema seria ele ser posto em prática”.
Essas percepções e opiniões paradoxais podem estar ligadas ao desconhecimento do ECA, segundo Daniel Massayuki, doutorando e autor do estudo, realizado com orientação do professor da FFCLRP, Sérgio Kodato. “Observa-se que o conhecimento sobre o estatuto é um pouco limitado e estereotipado, pois os discursos dos educadores representam o ECA como facilitador da indisciplina, mas ao mesmo tempo indicam que se avançou na conquista de direitos de crianças e adolescentes, desde que melhor executado.”
O professor Kodato destaca que “os educadores, acuados com a hostilidade dos alunos e seus familiares, reclamam que as medidas e recomendações do ECA sobre a contenção da violência não são colocadas em prática na escola, permanecendo no plano teórico e alimentando o caos”. Com isso, prevalece o clima de desacato à figura de autoridade, a falta de limites, sendo que os direitos de adolescentes que querem aulas e aprendizagem ficam prejudicados pelos que estão excluídos do processo pedagógico e adotam a conduta agressiva e transgressiva como uma forma de fornecer sentido a permanência cotidiana na escola.
“Os professores têm consciência da necessidade de detectar, cuidar e notificar ao Conselho Tutelar, os casos de alunos violentados e maltratados, em suas famílias e comunidades de origem. Mas, muitas vezes, preferem se omitir, em função de medo, do temor de vingança por parte dos denunciados e porque os encarregados de coibir a violência não estão conseguindo efetivar a averiguação das denúncias e culpabilização dos responsáveis”, afirma Kodato.
Segundo os pesquisadores, a forma como os educadores representam o estatuto influência nas relações pedagógicas e desencadeia problemas que refletem negativamente no trabalho de todos na escola. “No caso do professor que desconhece o Estatuto da Criança e do Adolescente e está na sala de aula, ao presenciar relações conflituosas e brigas promovidas pelos estudantes indisciplinados, poderá representar essa violência como delituosa, se eximindo de mediar o conflito e encaminhando para a hierarquia superior ou mesmo à Ronda Escolar.

Instrumento de apoio
O professor Kodato destaca que os educadores poderiam assimilar o ECA como um instrumento de apoio ao desenvolvimento de estratégias e práticas para solucionar os problemas de violência na escolas, “no entanto esse processo está paralisado, atualmente, muitas instituições e agentes educacionais sentem-se intimidados e impotentes frente a situação de descalabro e agressão direta ou simbólica a figura do professor”.
A coleta de dados da pesquisa está sendo realizada com 20 educadores (professores, coordenadores, auxiliares de ensino e outros) de instituições do ensino fundamental II e médio da região de Barretos, no interior de São Paulo.
De acordo com os pesquisadores, o estudo utiliza a “Teoria das Representações Sociais” com referencial metodológico. “As representações são produzidas e circulam nas comunicações entre as pessoas, revelam singularidades delas no espaço político e institucional. Por exemplo, ao processo de socialização, resultado da interação entre as pessoas e o grupo de pertença, contribui para a elaboração de representações e significados a respeito de si, da sociedade, dos outros e do mundo”, afirma Kodato.
 
 Fonte: Agência USP de Notícias. 

12 de março de 2014

Cientistas avaliam compostos contra discinesias do Parkinson

Um grupo de cientistas da USP, em Ribeirão Preto, está pesquisando substâncias químicas que podem agir contra um dos efeitos colaterais da doença de Parkinson: os movimentos involuntários anormais e repetitivos do corpo, chamados de discinesias. Estudos apontam que essa disfunção pode ser controlada com a regulação do neurotrasmissor óxido nítrico. Ele é um gás que atua na comunicação entre neurônios e está presente no sistema nervoso central nas regiões do cérebro afetadas pelo Parkinson.


Tanto o óxido nítrico quanto a dopamina, outro neurotransmissor, agem em conjunto para que os movimentos do corpo sejam realizados devidamente. Em pessoas com a doença de Parkinson, há uma diminuição progressiva dos neurônios ligados à dopamina, afetando os movimentos. O tratamento atual consiste, principalmente, em um medicamento à base de L-Dopa, substância precursora da dopamina, ou seja, o paciente recebe o remédio e o organismo transforma a substância no neurotransmissor dopamina, melhorando os sintomas da doença de Parkinson (lentidão dos movimentos, dificuldade de caminhar etc).

“Como o tratamento é longo, com o passar do tempo o paciente desenvolve um efeito colateral ao medicamento e começam a surgir os primeiros sintomas de discinesias”, explica a pesquisadora e professora Elaine Del-Bel, do Departamento de Morfologia, Fisiologia e Patologia Básica da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORP) da USP. “Se antes a pessoa não conseguia comer sozinha porque não era capaz de iniciar o movimento, depois do tratamento com L-Dopa (aproximadamente cinco anos), ela não come porque os movimentos são muito intensos e descontrolados, a mão não tem estabilidade para segurar, por exemplo, um copo de água sem derrubar”. Este é um estudo que vem sendo desenvolvido desde 1998 com a participação de alunos de mestrado, doutorado e a colaboração de professores do Brasil e do exterior.

De acordo com Elaine, o grupo já possuía conhecimentos sobre as atividades do óxido nítrico sobre a produção de movimentos quando começaram a testar substâncias para inibi-lo. “Ele atua sobre vários neurotransmissores, por isso quando se regula a sua quantidade, também se controla os níveis, por exemplo, da dopamina. Isso faz os movimentos involuntários diminuírem, praticamente desaparecerem”.

Testes com animais
O grupo de pesquisa de Ribeirão Preto já realizou testes em animais com duas substâncias para inibir a ação do óxido nítrico: o 7-nitrato-indazol e o azul metileno, e os resultados foram promissores. Em 2009, o grupo publicou na revista Neurosciense os efeitos do primeiro composto testado, o 7-nitrato-indazol.

No laboratório, foram injetados diretamente no cérebro de ratos e camundongos uma neurotoxina para destruir a maior parte dos neurônios dopaminérgicos. “Quando esses neurônios são destruídos, eles vão produzir nos animais alguns sintomas que ajudam a estudar características da doença de Parkinson. Aproximadamente um mês depois da lesão, os animais receberam o medicamentos L-Dopa, por aproximadamente um mês, apresentando, então, os movimentos involuntários anormais ou discinesias. Em seguida, passamos a tratá-los com a L-Dopa e o inibidor da síntese de óxido nítrico 7-nitrato-indazol. Percebemos que essa substância impedia os movimentos involuntários e os animais melhoravam. O efeito muito provavelmente ocorre pela diminuição na produção do óxido nítrico”, descreve Elaine.

Entretanto há um problema com os inibidores da produção de óxido nítrico como o 7-nitrato-indazol, segundo a pesquisadora: eles ainda não são autorizados para uso em humanos. A indústria farmacêutica teria que desenvolver um medicamento para este fim, pois não há nenhum similar para tratamento humano. E isso demandaria grandes investimentos e tempo. Por isso, os testes foram direcionados para outra substância já utilizada em humanos: o azul de metileno.

Ele é um corante bacteriológico e indicador muito utilizado em unidades de terapia intensiva. “Assim como o 7-nitrato-indazol, ele também, de uma forma indireta, inibe a síntese de óxido nítrico. Nos testes com animais, ele teve bons resultados para frear as discenisias.  A grande vantagem do azul de metileno é ser uma substância já aplicada em seres humanos”, afirma a pesquisadora.

De acordo com Elaine, o grupo de pesquisa tem planos de iniciar testes do azul de metileno em pacientes com a doença de Parkinson. “Dentro de um ano, talvez, possamos começar o estudo com pessoas”.

Fonte: Agência USP de Notícias.

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